O aclamado violonista brasileiro Alvaro Henrique acaba de lançar seu mais recente álbum intitulado “O Violão de Villa-Lobos: volume 1”. Com participação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, regida por Cláudio Cohen, o álbum traz ainda a presença de talentosos músicos como Diana Mota (flauta), Kleber Lopes (oboé), Carlos Gontijo (sax), Duly Mittelstedt (celesta) e Raphael Aragão (harpa), sob a regência de Ricardo Sousa-Castro.

O álbum apresenta composições de um dos mais importantes compositores da música clássica brasileira, Heitor Villa-Lobos, com destaque para os 12 Estudos, o Sexteto Místico e o Concerto para Violão. Neste primeiro de três volumes, o foco foi a produção do período em que Villa-Lobos viveu em Paris.

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Destaca-se que, ao interpretar os 12 Estudos, Alvaro Henrique aplicou diversas técnicas inovadoras. O Estudo 1 de Villa-Lobos tem várias semelhanças com o Estudo 1 Op. 10, de Chopin. Para ficar mais evidente a relação, Alvaro utiliza a mesma acentuação que Chopin solicita para criar a sensação de “cascata de notas”. O Estudo 2 de Villa-Lobos tem várias semelhanças com o Capriccio 1, de Paganini. Para deixá-los mais parecidos, Alvaro Henrique tocou todas as notas com a mão direita, ao invés de tocar algumas com a mão esquerda (ligado) e relacionando a intensidade das notas com sua altura (grave e agudo). Já o Estudo 3 é subentitulado pelo Villa-Lobos como um estudo de arpejos, mas os violonistas tocam como se fosse de ligados. Para tirar os ligados (notas tocadas com a mão esquerda) do centro do discurso musical, e colocar os arpejos como protagonistas, foi necessário pensar em opções interpretativas incomuns.

O Estudo 4 é considerado pelo Marco Pereira como uma das muitas obras que inspira a Bossa Nova décadas depois. Na nova edição crítica dos 12 Estudos, o editor Frederic Zigante coloca num pequeno trecho uma acentuação que lembra o choro. Alvaro Henrique ousou usar esta mesma lógica pra composição inteira e o resultado foi surpreendente. No Estudo 5, Eduardo Fernandez notou uma citação à Wagner, justo o famoso trecho do “acorde Tristão”, na seção lenta. Para a citação ficar mais clara, a primeira parte precisava ficar mais rápida que o normal. Como Marco Pereira apontou que a primeira parte é uma cantiga de roda, e cantigas podem ser também rápidas, seria uma opção coerente. Marco Pereira, no seu livro sobre a obra para violão de Villa-Lobos, diz que o Estudo 6 é influenciado pelo Tango. Uma pegada e sonoridade portenha estão presentes nesta interpretação.

Marco Pereira, no seu livro sobre a obra para violão de Villa-Lobos, relaciona o Estudo 7 às bandas de fanfarra, e a gravação busca se aproximar deste universo estético. O Estudo 8 tem um ritmo típico do Maxixe após uma introdução melancólica. Alvaro preferiu tocar como a dança brasileira para criar mais contraste, e revelar esta camada da composição. O Estudo 9 é uma das incógnitas do grupo. Tem uma melodia muito simples, e um embelezamento rebuscado. A maioria das gravações coloca o embelezamento em primeiro plano, e nem se pode identificar que há uma melodia. Mas colocar a melodia em primeiro plano cria o desafio de expor que esta melodia não é tão interessante assim… Como a ideia era, antes de tudo, revelar o que estava escondido, nesta gravação a melodia foi colocada em destaque.

Há cerca de 20 anos, descobriram novos manuscritos dos 12 Estudos para violão, de Heitor Villa-Lobos. Entre as diferenças do manuscrito de 1928 e a versão publicada pela editora Max Eschig em 1953, a mais gritante estava no Estudo 10. Basicamente, toda uma seção de cerca de uma página foi cortada. A partir daí, nasceu uma polêmica: qual das duas versões seria a mais correta?

Neste primeiro volume da integral para violão de Heitor Villa-Lobos foram incluídas as duas versões. Entre os 12 Estudos, está a versão publicada. Como última faixa do álbum, há a versão do manuscrito de 1928.

Finalizando os 12 Estudos, vemos nos 3 últimos um dos melhores exemplos da influência indígena na música de Heitor Villa-Lobos. Os Estudos 10, 11 e 12 são como um ritual indígena: no Estudo 10, todo o grupo se reúne numa cerimônia inicial. No 11, um indivíduo passa por uma transformação individual. No 12, a pessoa se reúne com o coletivo após sua experiência transformadora.

Com isso, Alvaro Henrique apresenta uma abordagem singular e original para as obras de Villa-Lobos.

O Sexteto Místico, por sua vez, é uma expressão das capacidades incríveisde Heitor Villa-Lobos. Composto na década de 1920, a partitura foi perdida. Cerca de 30 anos depois, escrevendo em outro estilo, ele recria a partitura de memória. Seria muito interessante achar a partitura original para conferir o quão fiel foi a memória dele, mas ainda assim é um feito impressionante. O nome da composição se deu pelo uso, no grupo, de instrumentos associados a anjos e ao paraíso: a harpa, o violão e a celesta.

O Concerto para Violão é a grande obra de maturidade de Villa-Lobos. Um resumo de toda a sua obra, temos citações de temas populares (Marcha, Soldado), influência indígena (a mais clara é a citação à cançaõ Nozani Ná), além da sua orquestração exuberante.

Com “O Violão de Villa-Lobos: volume 1”, Alvaro Henrique mostra mais uma vez sua habilidade como um dos principais violonistas brasileiros da atualidade e sua paixão pela música clássica brasileira. O álbum é um convite a todos os amantes da música para apreciarem as belas composições de Villa-Lobos, executadas com maestria pelo talentoso Alvaro Henrique e a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, regida por Cláudio Cohen, além dos demais músicos convidados.
A gravação está disponível no Spotify, Deezer, Amazon Music, Apple Music e Tidal.

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