Neste pequeno texto vou apresentar brevemente quatro nomes muito relevantes para construir esse instrumento que é, do ponto de vista estético, igualzinho ao que você tem em casa, mas gerou uma forma de tocar que faz do violão do Brasil o único outro país a ter uma escola própria de violão além da Espanha. Tenho me dedicado um pouco a cada um deles nos últimos anos, e noto que ainda há muito desconhecimento da importância deles.

Vamos começar com Dilermando Reis. Ele nasceu nos anos 1910 e viveu até os anos 1970. Teve um período da sua vida no qual ele trabalhava na rádio mais popular e de maior audiência – e não existia TV. Isso o ajudou muito a se tornar um dos músicos mais populares da sua geração e fez o violão chegar aos grotões. Em qualquer lugar que você for no Brasil, se encontrar pessoas daquela geração que viveram a experiência de ouvir o Dilermando Reis na rádio, se você tocar músicas do Dilermando, de repente a pessoa lembrará coisas maravilhosas. Esse contato com o violão se manteve vivo em muitos locais em especial por causa do Dilermando. Ele mostrou o violão principalmente como um instrumento de tocar melodias, um violão que canta, um dos tripés do violão brasileiro. 

Aqui no violão do Brasil há uma coisa fantástica. Em outros locais do mundo existem formas de tocar o violão próprias nas quais a harmonia é muito interessante, mas o ritmo ou a melodia não é tão legal, ou outros locais que o ritmo é exuberante, mas a harmonia ou a melodia não são tão belas, outros no qual a melodia é fantástica, mas o ritmo ou a harmonia não são tão interessantes assim, e o violão no Brasil é a mistura perfeita de excelência: belas melodias, harmonias exuberantes e ritmos fantásticos. O Dilermando foi quem deu o primeiro elemento nessa mistura: as melodias maravilhosas que são assobiadas pelas plateias do mundo inteiro.

Outro fundador do violão foi Heitor Villa-Lobos. Ele nasceu no ano anterior à abolição da escravidão e faleceu no ano anterior à inauguração de Brasília. Então, ele viveu a transição entre um Brasil que ainda tinha resquícios do que havia de pior no seu tempo de colônia e chegou a, nos últimos tempos, encontrar um Brasil entre as principais nações do mundo. Claro, Villa-Lobos foi um dos personagens importantes para esta evolução do Brasil. Uma das coisas que deu a ele um destaque, especialmente no violão, é a obra-prima mais importante desta primeira metade do século XX ser dele: os 12 Estudos para violão – embora muita gente ache que é uma obra ainda mais relevante os 5 Prelúdios. Os 12 Estudos possibilitaram a compositores de todo o mundo descobrir novos recursos idiomáticos do violão que eles desconheciam. E o mais impressionante é: embora essa obra tenha sido composta em 1928, ainda hoje, quando você toca essas obras, o público – inclusive de violonistas – fica embasbacado com os recursos que Villa-Lobos utilizava mas que o público ainda hoje não sabe que o violão tem.

Outro nome muito importante para o violão no Brasil é César Guerra-Peixe. Ele colocou em destaque na música brasileira a música do sertão do nordeste. Guerra-Peixe começou sua produção musical compondo música de vanguarda e foi um dos principais nomes de um movimento no Brasil que representava o mais avançado em escrita musical, mais de acordo com a vanguarda européia. Só que o Guerra-Peixe reviu seus valores e decidiu se voltar à música folclórica – sem abandonar os recursos composicionais que aprendeu na música de vanguarda. Ele vai ser o grande precursor de um dos movimentos mais importantes no Brasil, que é o Movimento Armorial e, em função disso, o Guerra-Peixe tem esse papel único de ser um dos principais líderes de dois movimentos antagônicos: o movimento de vanguarda visava uma música mais internacionalizada, mais atualizada com o que havia de mais avançado na Europa, em especial na Alemanha, e o movimento Armorial queria uma música com bases eminentemente folclóricas, com o mínimo de influência europeia possível. E o Guerra-Peixe conseguiu ser um dos principais líderes dos dois movimentos.

Por fim, queria encerrar esse pequeno texto com um dos nomes que já representa um pouco de cada uma dessas coisas: ouvimos com Dilermando Reis melodia maravilhosas, com Villa-Lobos e com Guerra-Peixe harmonias sofisticadíssimas. O ritmo, em Guerra-Peixe, já é exuberante, mas com Baden-Powell atingimos outro patamar. Em Baden-Powell ouvimos um exemplo de tudo isso acontecendo ao mesmo tempo: harmonias sofisticadas, uma bela melodia e ritmos como você não vai ouvir outro em nenhum outro lugar do mundo.

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